Dr.Ricardo Ribeiro |
O povo baiano, assim como o do restante do país, estabeleceu que a
rua passa a ser definitivamente o seu espaço de manifestação. Um grito
difuso que a casa grande ainda não entendeu, por não ser de sua praxe
dialogar seriamente com a senzala e por ignorar que as demandas desta
vão além de uma passagem de ônibus, benesses pontuais ou uma reforma
política cosmética.
A passagem que o povo exige é para a plena dignidade que o
ordenamento jurídico prevê, mas é negada pelo dia a dia nas filas dos
postos de saúde, no atendimento precário dos hospitais, nas escolas sem
estrutura onde pouco se aprende, nas cidades entupidas de carros,
barulho e fumaça, mas sem espaços de lazer e esporte. Cidades não
sustentáveis, asfixiadas, hipertensas, moribundas.
(...) 2 de Julho, como se comportarão os políticos? Desfilarão
cínicos, como se nada tivesse acontecido? Passarão sóbrios e
circunspectos, procurando demonstrar atenção e preocupação? Deverão
ausentar-se das ruas, reconhecendo que o momento é de imersão reflexiva?
É preciso esperar para ver qual será a postura na data festiva.
Porém, o mais importante é esperar para saber o que acontecerá de agora
em diante. Há quem aposte na vitória do futebol como lenitivo das dores
do povo; outros, certamente mais sensatos e responsáveis, creem que o
caráter inédito, espontâneo e “epidêmico” das manifestações torna o
esmorecer pouco provável. Há um reconhecimento geral de que não é mais
possível à política continuar como uma ineficiente ilha de mordomias,
esgotada em si mesma, ignorante dos anseios da sociedade.
No cortejo do 2 de Julho, os políticos têm uma rara oportunidade de
andar na mesma direção. No momento histórico vivido pelo Brasil, os do
poder estão assustados, dão respostas atabalhoadas, veem as reações
equivocadas se traduzir em queda na aprovação popular, pois são os que
mais têm a perder. Os que estão fora do poder gralham e gargalham,
torcendo pelo pior cenário. São os que mais têm a ganhar.
Em meio a esses dois grupos, que o povo tenha sabedoria e mantenha o
foco. Que compreenda a dimensão de seu poder quando exerce a cidadania
que a Constituição lhe confere e não abra mão do direito de ser
protagonista na busca de um futuro melhor.
Esse espírito iluminou os baianos a 2 de Julho de 1823. Que ilumine todos os brasileiros hoje, amanhã e sempre!
Ricardo Ribeiro é advogado.
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