.

.

terça-feira, 7 de maio de 2013

RELIGIÃO - POVO DE SANTO PARTE PARA A DEFESA DE SUA FÉ


Atabaques, mulheres de turbante e homens vestidos a caráter para  rituais sagrados. Este foi o cenário,  ontem, na Câmara Municipal de Salvador. Cerca de 500 pessoas ligadas ao candomblé e outras religiões afros protestaram contra o projeto de lei do vereador Marcell Moraes, que proíbe o sacrifício de animais em rituais.
“Não podemos retroceder! Antes das pessoas falarem de ecologia, o candomblé sempre preservou o meio ambiente e a vida.  Dizer que matamos animais é um  atestado de profundo desconhecimento da nossa religião. É intolerância, estamos voltando no tempo. Daqui a pouco, vamos ter que pedir autorização para realizar nossos cultos”, bradava emocionada  Jacilene Nascimento, equede do Ilê Axé Ibá Lugan.
Antes mesmo do início do ato político, os dois grupos (povo de axé e ambientalistas) entraram em confronto. “Comer carne animal faz parte da nossa base alimentar desde que o mundo é mundo. O que eles querem é acabar com nossa religião, sem ao menos conhecê-la”, afirmou tatá Ricardo, de Camaçari.  Já a estudante de direito Jaqueline Gonçalves é a favor do projeto: “Muitos comportamentos foram mudados ao longo da história, por que não é possível fazer diferente?”.
Para mãe Jacira de Yansã, o que moveu o projeto foi o total desconhecimento das práticas das religiões de matriz africana. “Temos total cuidado com os bichos que serão sacrificados. Eles passam por uma preparação  para que o ato seja indolor. Folhas sagradas são usadas e o corte é um só, feito por um sacerdote”.


Proposta pode ser arquivada
O professor da Ufba e da Uneb, o advogado Samuel Vida,  explica que o projeto que tenta acabar com o sacrifício de animais  para práticas religiosas é ilegal e fere a Constituição. “Vivemos em um País laico e a Constituição, nosso maior referencial  para o direito, no seu Artigo 5º,
garante a liberdade de culto.

O vereador deveria saber que em  todas as cidades onde este tipo de projeto foi apresentado, acabou vetado”.
Segundo o secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial, Elias Sampaio, o projeto é absurdo e agrega outros problemas, como intolerância e desconhecimento. Para o vereador Sílvio Humberto, “se a Comissão de Justiça seguir o parecer e for como foi em outras cidades, o projeto não vai para frente”.

Ameaça de ocupação
Com o debate quente sobre a proposta do vereador, os líderes religiosos atestaram que se o Projeto de Lei não for retirado haverá uma ocupação da Câmara Municipal de Salvador. “Agora cabe a ele. Se não tinha conhecimento, deveria procurar se informar melhor.
Somos organizados e unidos, não vamos sair daqui”, afirmou Jacilene Nascimento. Líderes de outras religiões também se posicionam. Uma das representantes da Igreja Universal, a vereadora Eronildes Vasconcelos, a Tia Eron, afirmou que discorda do projeto de Marcell Moraes por ferir a Constituição, que garante a liberdade de culto. “Mesmo tendo outra opção religiosa, não posso concordar com o desrespeito. Essa casa é do povo e deve representar a todos”, afirmou.
Assessora do vereador Marcell Moraes, a veterinária Lilia Amorim afirmou que houve um equívoco na elaboração do projeto e que ele não tem a proposta de atacar o candomblé. “O vereador vai se retratar. Foi um erro a forma como o projeto foi apresentado”, reconheceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário