247 - "O que eu estou vendo aqui é
inédito em toda a minha vida parlamentar. Líderes do PT estão pedindo
apoio aos partidos da oposição, e não base aliada, para derrotar seu
maior aliado, que é o PMDB", resumiu o deputado Carlos Sampaio
(PSDB-SP), no fim da sessão de ontem, na Câmara dos Deputados, que
apreciou a medida provisória 595, que trata do setor portuário.
Sampaio fez seu desabafo logo depois que o Partido dos
Trabalhadores conseguiu sua maior vitória na noite de ontem: a derrubada
da emenda aglutinativa, apresentada pelo deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que foi o pomo de toda a discórdia. Ao garantir a renovação
das concessões atuais, essa emenda foi chamada na semana passada por
"emenda Tio Patinhas", pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ),
impedindo a votação naquela sessão.
Depois de ser derrotado, Cunha colocou em marcha uma
manobra para ganhar tempo. Exigiu que todas as votações, assim como de
sua emenda derrotada em plenário, fossem feitas nominalmente – o que
impediu o término da sessão na noite de ontem. Com isso, ainda falta
apreciar 14 destaques e talvez não se consiga promulgar a MP na Câmara e
no Senado até quinta-feira, prazo final.
Com essa guerra explícita entre PT e PMDB dentro do
plenário, a grande dúvida que paira no ar é sobre o impacto que isso
poderá ter na relação entre a presidente Dilma Rousseff e seu vice
Michel Temer. Em tese, uma coalizão liderada por dois partidos tão
grandes deveria ser capaz de propor reformas e aprová-las, no Congresso,
de forma suave. Mas não foi o que se viu no plenário. Em certo momento
da sessão, o próprio presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), perguntou a Cunha, por SMS, onde estava o PMDB.
Impactos no Rio
Se o choque entre os dois partidos traz riscos no plano
nacional, mais grave ainda é a situação no Rio de Janeiro. O deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), transformado em inimigo público número 1 do
Palácio do Planalto, é bancado no cargo de líder pelo governador do Rio
de Janeiro, Sergio Cabral. E ele, assim como seus aliados, tem feito
intensa pressão sobre o PT para que o partido desista da candidatura do
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em favor do vice Luiz Fernando Pezão,
que ainda patina nas pesquisas pré-eleitorais.
O Rio é o que o PMDB tem hoje de mais importante. Numa
guerra com o PT, as chances de vitória, que hoje não parecem animadoras,
se tornariam ainda mais remotas. Curiosamente, quem assiste a tudo de
camarote é justamente o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que lidera
as pesquisas e, alinhado com o Planalto, liderou o embate com Eduardo
Cunha
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