
Esta
filosofia divulga e legitima a ideia de que, quando uma pessoa tem a
possibilidade de se impor aos demais, pode mostrar-se generosa ou
medíocre.
Os
generosos são aqueles que sabem o quanto o poder é efêmero e
transitório. Atentos à sua condição provisória, buscam sabedoria,
portam-se com humildade, são agregadores e, acima de tudo, são justos e
honestos. Classe em extinção, estas pessoas exercem o poder conscientes,
durante todo o tempo, de sua brevidade e de sua responsabilidade. Por
não serem apegadas às condições que o poder lhes traz, são, exatamente
por isso, generosas na mais pura acepção da palavra.
Já os
medíocres (que infelizmente existem com certa fartura), apegam-se ao
poder como se este fosse inalienável. E quero aqui fazer um pequeno
intervalo – não estamos falando de poder verdadeiro, de governar países,
credos, facções ou equivalências. Falo dos pequenos e quase
imperceptíveis “poderes”. Daqueles que se fazem notar num pequeno campo
de atuação, mas que, exatamente por isso, embriagam seus detentores,
dando-lhes a certeza de que alcançam muito mais longe do que conseguem
na verdade. Estes medíocres poderosos fazem questão de tripudiar dos
humildes e parecerem humildes perante os poderosos, tendo ainda a
coragem de se declararem humildes, e, na maioria das vezes,
profissionais. E reitero – na maioria das vezes nem é necessário
conceder-lhes tanto poder assim para que surjam luminosas, suas faces
mais medíocres.
Quem
não conhece a história de pessoas, que sendo servis e desprezadas no
meio profissional, tornam-se carrascos diante dos familiares que estão
submetidos ao seu medíocre poder, ou ao contrário, do pai de família
dominado por uma dinâmica familiar que não lhe cede espaço e se torna o
mais carrasco chefe em seu trabalho, humilhando e subjugando seus
subordinados?
Quem,
nas empresas, já não teve a experiência de conviver com pessoas que eram
pacíficas, alegres e bondosas e se transformaram de repente em tiranas e
inflexíveis, ao serem promovidas a chefes, gerentes ou diretores? Quem
não conhece pessoas recalcadas e inseguras que se tornam “corajosas” ao
receberem, ainda que de forma medíocre, um instrumento formal de
“poder”?
E há
ainda os “poderosos” de nascença. Estes independem do cargo para mostrar
a face arrogante do poder: Para eles, pouco valor têm as palestras,
cursos, seminários e mesmo a psicoterapia. Só a própria vida é capaz de
fazê-los mudar de postura – mas este é um longo e complicado processo ao
qual não vou me apegar aqui.
Nada
torna o poder mais medíocre e intolerável, do que ter condições de
exercê-lo apenas em pequenas esferas, quando onde se queria realmente
tê-lo, se vive uma outra e muito diferente realidade.
Dessa
forma, ouso acrescentar à famosa frase: Se quiser conhecer realmente uma
pessoa, dê-lhe poder e investigue junto àqueles que por algum tipo de
hierarquia, ainda que subjetiva, devem lhe prestar qualquer tipo de
obediência. Questione como é o seu relacionamento com elas. A resposta
obtida demonstrará com total fidelidade, as manifestações mais obscuras
de seu caráter.
Lord
Acton, o historiador inglês, afirmou: “o poder tende a corromper, e o
poder absoluto corrompe absolutamente”. O mais interessante é que,
diante de um poder que não conheciam e que lhes foi outorgado
modificando o rumo de suas relações com os outros, algumas pessoas
tendem a justificar suas mediocridades se escondendo atrás de falácias
do tipo: “sou franco e transparente – falo o que tenho que falar na
cara”, sou curto e grosso” ou “sou extremamente profissional”. Trata-se
de uma defesa contra o lado obscuro que foi aflorado e que de certa
forma ainda pode ser causa de vergonha. Estas justificativas tentam
legitimar as grosserias, indelicadezas, a falta de educação e gentileza,
e, o que é pior, a má vontade, a intolerância, a falta de
companheirismo, ou seja, a mediocridade.
Obter
poder torna-se, assim, de certa forma, promover mudanças, não as
necessárias, infelizmente, mas as inevitáveis. Desde o modo de se vestir
à forma de tratar às pessoas. No trabalho, aqueles que recebem o poder
tendem a substituir os antigos companheiros, cercando-se daqueles que
não o conheceram enquanto subordinado e que, por isso tendem a legitimar
mais rapidamente sua nova condição de poder.
Outra
mudança imediata diz respeito à forma de se expressar e comunicar. A
conversa pode se tornar autoritária e ameaças passam a fazer parte do
repertório. Se o poder adquirido está ligado a um outro organismo ou
pessoa, este é citado a todo o tempo, como se fosse um ser onipresente,
onipotente e onisciente, pronto a vir autenticar o poder que está sendo
exercido. Esta mudança corrobora o que respondeu Maquiavel ao ser
questionado se era melhor ser amado que temido. O célebre autor de O
príncipe não teve dúvida: "os dois, mas se houver necessidade de
escolha, é melhor ser temido do que amado". Os medíocres poderosos
acreditam piamente nessa máxima.
E por
fim a mudança mais imponente: o fenômeno da “desidentificação”. Aquelas
pessoas que eram amigas e ofereciam apoio e aliança ao que se tornou
poderoso, passam a ser vistas como arquivos vivos dos seus defeitos.
Voltemos ao nosso pai de família – subalterno, humilhado, sem expressão,
ganha inesperadamente poder e visibilidade na empresa. Volta para casa e
começa a achar que está na hora de trocar de família.
O
poder leva a pessoa a não se identificar mais com aqueles que faziam
parte de suas relações, sejam familiares, vizinhos ou colegas de
profissão.
E após
estas mudanças, nada mais tem volta. O poder um dia acaba, porque tudo
acaba, e isso é certo, e o “poderoso” fica sem saber onde foi que errou,
culpando as pessoas, por serem incompetentes e incapazes de lhe
acompanharem em sua heróica e maravilhosa jornada.
Estes
são os que esquecem que o poder não se manifesta pela capacidade de
controlar uma equipe, humilhando e “colocando cada um em seu lugar”. O
poder pode e deve ser reconhecido, avaliado e calculado pela quantidade
de justiça de que é capaz de praticar, pela sua capacidade de promover a
auto-estima em cada membro da equipe e pela felicidade de que é capaz
de impregnar na empresa.
Sem
essa visão positiva do poder, vamos continuar a conviver com os
medíocres, que iludidos com sua efêmera parcela de poder, passam a vida
distribuindo autoritarismos e afetando vidas sem nenhum discernimento e
integridade, vivendo guiados por suas vaidades e egoísmos.
Ana Maria Sales é Psicóloga, Orienadora vocacioanal, Especialista
Consultora em Recursos Humanos e palestrante nas áreas de
relacionamento pessoal e profissional. Graduada pelo Unicentro Newton
Paiva, Pós-Graduada em Educação e Pós-Graduanda em Gestão pela Faculdade
Pitágoras é diretora da Maximus Recursos Humanos, Coordenadora
Pedagógica do Ensino Médio no Instituto Presbiteriano Gammon.
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